Libertação animal

Esta semana estive em SP e, numa passagem pela Livraria Cultura, notei a presença de um livro que havia lido anos atrás, Libertação animal, do Peter Singer. Esse livro havia sido lançado em língua portuguesa pela editora Lugano, do sul. Ficou anos esgotado (eu mesmo consegui meu exemplar na Estante virtual). Agora é (re)lançado pela Martins Fontes.

Escrito por Peter Singer nos anos de 1970, tornou-se uma espécie de manual de referência para os defensores dos direitos dos animais. Seu autor é conhecido entre nós por outro livro, este de cunho eminentemente filosófico, Ética prática (creio que também lançado pela Martins Fontes). No Libertação animal, uma das teses centrais é de que devemos considerar os animais como igualmente merecedores de tratamento ético. O fundamento dessa ética é, se posso dizer assim, um valor hedonista (claro, não em sentido “sensual”): não se deve fazer sofrer, gratuitamente, quem pode sentir dor.

Os animais podem sentir dor. E eles a sentem graças às diversas formas com que são utilizados pela espécie humana: na alimentação, no vestuário, no entretenimento, nas experiências científicas, na indústria da pele, e em muitas outras. P. Singer explora esses usos “instrumentais” dos animais, questionando-o do ponto de vista da ética que defende.

Esse assunto pode ser estranho a muita gente. Ou então pode ser foco de ridicularização ou mal-entendidos. Contudo, os argumentos são terrivel e surpreendentemente (para mim, ao menos) persuasivos e convincentes. Mas, desde quando li esse livro (bem como outro, Jaulas abertas – outro “clássico” no ramo), senti uma profunda cisão entre saber/fazer. Pois, se de um lado, você fica inquestionavelmente impactado pela leitura (assista ao documentário Terráqueos, para entender), de outro há um sério risco de se ficar numa espécie de voyeurismo de inação, afinal, continuamos a consumir carne e a nos beneficiar, indiretamente, dos animais (até no sabonete que usamos para o banho). Há, também, gente que ache o assunto coisa de “naturalista hippie“.

Seja como for, eu acho mais do que bem-recebida a republicação deste intrigante e desconfortante (melhor definição que consigo encontrar para ele) livro.