Contradições do Natal

O ser humano é realmente uma espécie contraditória. Nestes dias de festas, é comum a maioria de nós abrandar o coração e ampliar a gentileza, especialmente ao desejarmos os melhores votos uns aos outros. E não há como negar que é realmente fascinante ser afetado por um momento coletivo e social como esse, carregado de representações as mais positivas.

Na vida cotidiana, porém, como funciona o “clima natalino”? Vou dar um pequeno exemplo. Fomos ao supermercado fazer compras. Isso foi ontem. Não é de se surpreender que, dada a festividade (com um claro componente gastronômico!), as pessoas tenham ido, “todas”, ao supermercado ao mesmo tempo.

Aí começa o show de horrores. Por exemplo, você vai pagar suas compras num caixa que parece menos “congestionado” e, de repente, aparece uma pessoa com dois carrinhos cheios. Alguém ficou “guardando fila” para ela. Outro exemplo: a pessoa que está passando suas compras, mesmo notando a balbúrdia ao redor, não tem a gentileza de ajudar a funcionária do caixa (já por demais atordoada de trabalho) a empacotar suas coisas. Mais um pequeno exemplo: pessoas deixando muita mercadoria nos carrinhos, especialmente mercadorias que não poderiam ficar fora da geladeira. Provavelmente, o olho foi mais “gordo” do que o olho que se surpreende com os $$$$ a pagar. Os exemplos poderiam ir longe…

Uma conclusão “gerencial” – esses pequenos atos de indelicadeza da vida cotidiana contribuem, somados ao despreparo e ao desânimo de funcionários (ou a seu cansaço e mal-estar), para que o simples ato de fazer compras na véspera de natal se torne algo da ordem do “desperdício”.

Uma conclusão “antropológica” – não é engraçado, contraditório, sermos tão “carinhosos” pelo embalo do “clima de natal” e, na prática (como no exemplo que dei das compras), sermos egoístas, mesquinhos, indelicados com o outro, “esfomeados” para corrermos para encher nossos carrinhos e comemorarmos, no mais cândido sentimento de solidariedade, com nossos “entes queridos”? Sei lá, para mim, o Natal parece estar se tornando algo só “da família” (dos iguais).

Feliz Natal meu amigo!