Onde está Deus? Na igreja, no coração, na Bíblia? No silêncio, no mar, na paz interior, no céu azul? No alto de uma montanha, no contemplar de um vale, na existência de uma criança, no zunzun de uma abelha ao redor de uma flor? No sorriso de uma mãe, no olhar de um velho, no pôr do sol, na lua? No pensamento perfeito, para cada um, naquele momento de serenidade inexplicável, na saúde do corpo, ou no leito de morte? No corpo de uma mulher, na penumbra, no colo de alguém amado? No silêncio dos animais, no barulho silencioso das árvores chacoalhas pelo vento? Na floresta amazônica, com seu incalculável número de seres frágeis, mas ao mesmo tempo soberanos? Numa música perfeita, na harmonia de uma escultura, de um quadro, de uma paisagem? Deus, Deus, o ser perfeito, o ser que, ao ser tão perfeito, não tem sentido algum. A perfeição sem sentido, digo, sem um motivo, mas só o fato de existir. Deus está nos detalhes silenciosos. Acho que as pessoas que militam nos laboratórios de biologia, apesar do peso burocrático e banal de suas tarefas, estão próximos de ver Deus, suas marcas, seus rastros. Uma parte de Deus, penso eu, está nos detalhes impressos em nossas células. Sejam elas de humanos ou de bactérias. Debaixo do jargão complicado e esquemático das ciências biológicas básicas, uma beleza e elegâncias absolutas descansam soberanas. Deus definitivamente não está no barulho; não está no “macro”, no visível. Mas, ao mesmo tempo, está aqui, mais presente e palpável do que nunca. Temos olhos para ver, mas somos muito burros ou presunçosos para treiná-los a enxergar.