Viver é refazer – excurso delirante

Foucault disse, em algum lugar de sua vasta obra, que chega um momento em nossa vida que a única possibilidade de continuar vivendo é reinventando as coisas, algo como não se conformar com o que nos foi legado, ou nos é ofertado a cada momento. Reinventar é fazer diferente; interromper um fluxo de acontecimentos baseados em inferências a partir de hábitos ou repetições passadas.

Mas como reinventar? Como ser auto-reflexivo a ponto de instituir, no mundo, uma forma de enunciação da realidade que nos pareça mais inteligível? E o que fazer da angústia que surge quando, à busca de tal saída do fluxo ordinário (às vezes, do próprio pensamento!), nada encontramos senão gêneros linguísticos disponíveis, resíduos fortes da socialização (primária, secundária…) e uma espécie de falência semiótica?

Como criar um “mundo” em que nos sintamos à vontade, mesmo que num pequeno espaço sujeito a inevitáveis, contínuas e vorazes “des-territorializações”?