Professor, pesquisador, profissional

Será que ser pesquisador de psicologia equivale a ser professor de psicologia? E quanto a ser um profissional de psicologia? Acredito que não sejam as mesmas coisas. Correspondem, as três, a papéis distintos, com impactos diferenciados em termos de aprendizagem.

O pesquisador olha para um fenômeno e se pergunta: por que ele ocorre? Quais forças o determinam? Como pensar em sua evolução/desenvolvimento ao longo do tempo? Para tudo isso, deve colocar tal fenômeno contra o pano de fundo de uma teoria, e, com esta, fazer uma opção pelo seu entendimento do real. A pesquisa é lenta, segue um ritual próprio.

O professor, em seu turno, é um transmissor do saber estabelecido. Não significa, como alguns pensam, que apenas reproduz, repete. Pode até acontecer, mas, efetivamente, não precisa ser assim. Quem já deu aula e levou esta atividade a sério sabe que é, sim, possível produzir conhecimento à medida que se fala sobre um assunto, que se interage com o aluno. Uma aula bem dada, num bom entrosamento aluno-professor, permite grande aprendizado – ainda mais para o professor, um ser cuja ação é, sobretudo (nas humanas), linguística.

E o profissional? Este deve lidar com problemas práticos, determinados por diversas forças: econômicas, políticas, institucionais, pessoais, interpessoais. A realidade se apresenta ao profissional como um caos relativamente organizado, mas, ainda assim, problemático. O profissional muitas vezes não tem tempo para “rever a literatura” para saber o que outros fizeram ou recomendam que se faça para o melhor resultado. Profissionais atuam no âmbito do cotidiano, e este é totalmente indiferente a matrizes teóricas, epistemológicas, etc.

Para mim, há um salto imenso do pesquisador para o profissional. Em ciências humanas, dizer que a pesquisa “sustenta” a prática do profissional é, no contexto brasileiro, uma ignorância. Uma inverdade. Ao mesmo tempo, poucos profissionais realmente pensam suas práticas; poucos têm o espírito e a disposição para ver a realidade e suas “demandas” com o olhar de quem hesita (diante do saber). A difusão da pesquisa para a prática é, institucionalmente falando, uma piada. Não é à toa que universidades se fecham em si mesmas.

Uma saída é o pesquisador vivenciar outros papéis – de parceiro do profissional, por exemplo – mesmo com as dificuldades acima apontadas. Há riscos: o pesquisador-consultor; o pesquisad0r-palestrante; o pesquisador-vedete. Seja com for, há necessidade de outras competências: um ótimo pesquisador, entre quatro paredes de uma sala de aula de pós-graduação, se reduz a pó quando não consegue articular capital (humano, social, político, etc.).