Pensar grande, pensar pequeno

O que significa, para um país, pensar grande? Tirar as pessoas da miséria? Permitir que sua população tenha qualidade de vida, perspectivas, futuro? Favorecer o mercado, o desenvolvimento do capitalismo (como se este fosse “algo”…)? Um sentimento triste acometeu-me hoje ao ler a notícia de que nossa base militar na Antártida foi destruída por um incêndio. As perdas foram “incalculáveis”, na expressão de um pesquisador. E, provavelmente, o foram.

Pense num exemplo. Imagine que você tenha toda a sua vida num computador – digo, sua vida profissional (sua tese, por exemplo). E considere que não tenha feito cópias de segurança do conteúdo (e não pense que tenha sido por descuido, mas, simplesmente, porque deixou-se levar pela rotina, e outras prioridades apareceram que lhe distraíram nesse sentido). Agora imagine que seu computador, com todo seu conteúdo, sofra um acidente e tenha uma perda irreparável. Você perde tudo. Anos e anos de dedicação, organização, sistematização. Tudo vira pó. Tente imaginar sua desolação.

A Estação de Pesquisa Comandante Ferraz começou a operar em 1984. Muitas pesquisas foram realizadas lá desde então. Muitas pessoas envolvidas. Gente séria, preocupada em fazer alguma diferença, em descobrir evidências que nos permitam compreender melhor nosso planeta, seu ecossistema. Porém, a perda não foi só científica. A perda, a meu ver, é para o país inteiro. É claro que o Brasil (como qualquer outro país), nos faz perder coisas – com a violência, por exemplo, ou então a fome, a picaretagem na políica e assim por diante. Mas perdemos algo mais com essa tragédia, perdemos um grande exemplo de como um país pode pensar grande, de como pode sair de seu cotidiano imediato e fazer coisas com valor que escapam de suas fronteiras. Lamento muito pelo ocorrido, e lamento ainda mais por saber que, muito provavelmente, quase ninguém está dando bola para isso.