Passado

Confesso que não dei bola quando o último filme de Woody Allen foi lançado no ano passado. E a coisa passou para mim. Ontem, depois de ler uma coluna de Matheus Pichonelli na Carta Capital, fiquei tentado a assistir o filme. E o fiz hoje.

Para mim, o filme foi pior do que avaliou Pichonelli, e melhor do que o fez ontem André Forastieri, em coluna também dedicada ao filme. Não acho que o filme tenha sugerido (e voilà minha catarse…), simplesmente, que o presente é pior que o passado, e que nossa atual geração é vazia, obcecada por assuntos miúdos, seduzida por intelectuais arrogantes e esnobes, tratando o passado pelas mercadorias que ele nos deixou no presente (a própria Paris, por exemplo?!).

Ele fez algo muito pior, sugerindo que não há como escapar – que, uma vez no presente, vamos sempre achar que uma época anterior foi melhor, e logo vamos querer voltar para ela (ou, no caso de personagens do filme, de “ir” para ela). A vida é simplesmente um saco, e vai ser um saco no presente ou no passado, pois, uma vez chegando neste, ele vira presente e… vira um saco!

No entanto, presente e passado convivem juntos. Negociamos entre ambos, por assim dizer. Além disso, o passado idealizado deve ter lá a ver com nossos sonhos infantis. Quando crianças, sempre achamos os adultos mais “poderosos” que nós; até chegamos a achar (eu, pelo menos, o fiz!) que eles têm vidas misteriosas, enigmáticas… interessantes. Não me recordo, como criança, de achar que a vida dos adultos era um saco. Passamos a ver assim quando vamos ficando mais velhos. Quando adolescentes, achamos a vida de nossos pais um grande saco: os criticamos por falta de “amor verdadeiro”, por falta de “risco”, por serem ultrapassados (muitos pais ainda não sabem usar iPads e coisas do gênero…). Mas, paradoxalmente, quando adultos, achamos que nossa vida na infância era mais feliz.

Penso que, coletivamente, é a isso que muitas vezes nos entregamos: à idealização de um passado coletivo, grupal, no filme representado pela belle-époche, ou então pela boêmia dos anos 1920, na Paris borbulhante, viva, pulsante. A Paris de hoje é, sob certo ângulo, uma vitrine a céu aberto, dependendo (não desprezadamente, suponho) do turismo para sobreviver. Mas essa mesma Paris poderia ser uma espécie de Atlântida do “pequeno” grupo de humanistas ainda existentes no mundo (espécie em extinção?).

Mas concordo com Forastieri: chiclês demais! W. Allen diz que sempre toma como certo um público inteligente, mas não foi assim que me senti ao assistir o filme. Talvez isso tenha sido “proposital”, considerando que o filme é um sucesso de bilheteria e, desculpem-me, mas é quase óbvio que quem assistiu não foram apenas os “intelectuais” da época. Com isso, pode-se ter gerado certo “tapa na cara” de quem assiste ao filme. Neste ponto acho que Pichonelli acerta.

O filme é desconfortante, abunda na petulância e arrogância, mas, paradoxalmente, talvez esteja aí sua razão de ser.