Não misturemos! Um manifesto pela individualidade radical

Primeiro, vejam este vídeo – bem interessante, cuja “filosofia” é de não misturarmos certas coisas, pois não dariam nenhum pouco certo…

Agora, eu gostaria de completar com minha “lista de desejos” do que eu acho que não deveríamos misturar. A premissa básica é: eu sou eu, você é você. Sim, somos seres independentes, embora interligados de algum modo. Mesmo assim, ser independente quer dizer: a) que você, e só você, sente uma dor; b) que só você, e somente você, vai morrer do jeito que você vai morrer; c) que nada, nem com a melhor das filosofias exóticas, pode garantir que você sinta algo que o outro sente, e vice-versa; d) que apenas você sabe o que pensa, acredita nas coisas que acredita (embora viva imerso num mundo de significados compartilhados). Posto isso, passo à minha lista ou (arrisco dizer) “oração” (sim, pois são muito mais desejos do que práticas cotidianas…).

Não vamos juntar, não vamos confundir…

1) Seu fracasso com meu sucesso; ou meu fracasso com o seu sucesso, a menos que eu seja o explorador, ou que eu seja o explorado;

2) Suas experiências pessoais, sobre o que quer que seja, com minhas crenças e valores – por mais que estejamos numa mesma cultura ou sub-cultura, é problema seu aquilo em que você acredita;

3) O caso particular com o caso geral: as regras de sua vida não necessariamente se aplicam à minha; seus medos, suas angústias, sua maneira enviesada de ver a realidade, não necessariamente têm a ver com as mesmas coisas que ocorrem em mim;

4) O seu mundo com o meu, suas fraquezas com as minhas, suas forças com as minhas;

5) Seu delírio com o meu delírio;

6) Sua experiência de vida, sua “senioridade”, com a  minha experiência de vida; você fala de um lugar muito seu, de uma mesquinharia que é só sua, não minha; as minhas, delas cuido-as eu;

7) Seu desejo de agradar, de “ser legal” (para ganhar alguma coisa), com minha ousadia, meu desejo de te falar que “F.U., eu falo o que penso”;

8) Seu gozo com o meu (leiam Lacan para entender);

9) Seus critérios do justo, do certo, do bonito, do feio; suas ideias sobre o que é melhor ou pior – não generalize, indutivamente, a partir de si mesmo. Não se ache um “exemplar” da espécie – lute pela impessoalidade gritante, pelo “imperativo categórico”;

10) Sua hipocrisia com a minha.

Uma coisa eu te digo: como a vida é um grande e insidioso jogo de espelhos. Como nos confundimos, como nos projetamos, nos alienamos, nos “externalizamos” em supostas regras “coletivas”, “compartilhadas”.

Alguém conhece poder maior do que ser um indivíduo?