Estou confuso

Embalado pelo espírito nós-e-eles que, mais uma vez, invade o país, fiquei com um pensamento no ar, sobre o qual gostaria de falar aqui.

De um lado, o discurso de que o nível material de uma pessoa tem a ver, praticamente de modo exclusivo, com ela própria. De outro, o discurso, mais voltado ao lado social da coisa, de que devemos entender a desgraça vivida por muita gente no nosso país como uma reminiscência de um passado de exploração.

No primeiro caso, eco na minha cabeça se faz por ouvir, por mais do que o tempo recomendado pela segurança mental, alguns jornalistas da Jovem Pan (não sei escrever os nomes, mas é fácil deduzir). Paulistas, acreditam, decerto, no mérito, na ‘ousadia’. Devem olhar para o próprio umbigo quando pensam e julgam os outros como “responsáveis” pela sua própria desgraça (pobres, em geral, eu suponho). Claro, se eles deram “tão certo”, graças a tanto trabalho, por que esses ‘brasileiros’ chorões ficam aí pedindo bolsa família e votando no ‘poste’? Vê-se claramente, nessa gente, a espuma do ódio na boca. Vejam o prazer que eles têm ao descrever o que chamam de ‘esquerda caviar’. Ok, sei que isso já está talvez bem velho…

No segundo caso, a mentalidade corporativista mais aliada ao pensamento “sou medíocre, mas, junto de outros, ganho alguma vantagem”. Esse é o quinhão da galera que acha que dinheiro dá em árvore. São os defensores do ‘povo’, da ‘exploração congênita’ e da distribuição ‘comunista’ dos bens (vulgo “propriedade privada”). As cordas vocais desse povo é azeitada por contra-cheques pagos pelo serviço público. Se inquiridos sobre como seu salário é composto, com certeza devem desconversar. Se ouvem a palavra “empreendedor”, têm um ataque intestinal e enegrecem tudo ao redor.

Seria possível ‘juntar’ essas duas versões? Pois, convenhamos, enegrecer o ambiente quando se ouve a palavra ‘empreendedor’ não deve ser lá razão para comemorar. Porém, ficar, diante de um microfone, bravando ‘meritocracia’ num país carcomido pela pobreza e ignorância decerto também não seria algo que a ONU iria recomendar.

Estou te dizendo o seguinte: que minha subjetividade está dividida nesse negócio. Pessoalmente, acredito que há, sim, muito corpo mole por aí. As pessoas, sob a verdadeira justificativa de que não têm nada, acabaram aprendendo apenas 100 palavras da língua portuguesa, e elas têm a ver com ‘direitos’. Discutem a penúria. São aferradas a Maslow: “Meu amigo, não dá para discutir nada se o bucho não está cheio”. Mal percebem que, ao pensarem com o bucho, vão morrer com ele.

A esquerda brasileira, velha e carcomida como bom ‘intelectual’ de esquerda, acha que o mundo é uma colônia onde todos deveriam dividir a mesma escova de dentes. São ontologicamente indignados. Até assumo que devam sofrer à noite pensando na desgraça do brasileiro – sei lá, 80% da população. Mas elas preferem fazer isso no ‘conforto’ do contra-cheque pago com dinheiro do Estado – que, aliás, defendem que deva ser ‘atuante’ (jura?).

A direita brasileira, por seu turno, é composta, predominantemente, por velhos que ganharam muita grana num país de desdentados, e que, por razões obscuras, acham que isso foi mérito deles. Odeiam a eles mesmos, mas não percebem isso, pois não se conformam em ter nascido na colônia. Pois pergunto o seguinte: se, enquanto a esquerda corrupta tem o sonho de fazer o povo ter o que comer (ora, pelo menos é um vestígio de utopia), a galera da direita tem qual sonho? Ser um ‘gigante da América Latina’, ou conseguir comprar o novo iphone nos EUA? Não têm qualquer vontade ou tesão por pensar em construir um país internacionalmente respeitável. Vão seguindo a manada, em geral, a manada das commodities.

Voltando ao início: embalado pelo discurso corrente, só reflito minha covarde incapacidade de superar a ‘dialética da contradição’. Enquanto isso, vamos seguindo nas duas correntes: os ‘empreendedores’, de um lado, e os ‘revolucionários’, de outro.

A JJCC.