Depressão (2)

Ainda pensando sobre depressão, há uma leitura complementar à que fiz no post anterior. Uma leitura, porém, que segue na linha de entender parte da origem da depressão em um fenômeno de mal-estar civilizatório, ou seja: derivado da ruptura no “pacto civilizatório” (lembro-me de ter lido uma vez um belo texto de  Hélio Pelegrino sobre isso).

Nesse sentido, poderíamos entender a depressão como uma “doença” dos inertes numa época em que a inércia é o pior de todos os males. Equivalente a dizer que o deprimido é alguém cujo desempenho fica aquém do esperado pela “civilização” (leia-se, neste caso, a “civilização mercadológica”).

Há um bom par de décadas atrás, a doença que mais incomodava aos “disciplinadores” (higienistas, médicos etc.), era a euforia. Lógico, nada pior do que uma pessoa eufórica numa sociedade regrada e estática (regida pelo casamento pudico, pelas falsidades das aparências sociais etc.).

O inverso, lógico, pode ser verdadeiro – hoje, vivemos na euforia do momento. Fazemos várias coisas ao mesmo tempo; somos às vezes várias “pessoas” ao mesmo tempo. Não há, para os típicos pequenos burgueses de classe média que somos, alternativa senão a euforia profissional e pessoal em todos os sentidos.

Portanto, além de estimulado pelo desejo de espantar o sofrimento e a dor vinculados à depressão, o indivíduo é também pressionado para manter-se em dia e em forma psíquica. É isso de que precisam as empresas, nossas famílias e tudo o mais. Logo, a depressão, nesse seu aspecto, digamos, “social” (não simplemente “biológico”), é uma doença de época.