“A família brasileira não lê. Nós temos a internet que pode ser a fonte da vida e do conhecimento, mas o computador é usado como brinquedo. Muitos pais não percebem, mas seus filhos se tornaram idiotas”
A frase acima foi dita por Ziraldo ao UOL, por ocasião da Bienal do Livro que acontece neste instante em SP. O pai do “garoto maluquinho” acerta ao identificar a parte de um fenômeno bem mais profundo. Na frase, está contida a ideia de que os filhos, por cada vez mais não saberem ler, estão destinados, para ganhar a vida, a jogar futebol ou então a lutar no UFC.
Analogias ou metáforas à parte, há uma outra parte do mesmo fenômeno, interligada com esta. Os pais fazem dos filhos o centro de suas vidas. Talvez, pelo fato de terem vivido num período de transição (daquela época em que criança tinha lugar de criança para uma época em que os pais, movidos por culpa, querem dar à criança tudo o que não tiveram), esses pais não saibam, não queiram ou simplesmente não consigam tirar seus rebentos de seu foco primário de atenção, perdendo, inclusive, para o trabalho (aliás, um grande “adversário” da família é justamente o trabalho…veja o caso crescente de jovens que optam por não terem filhos ou os adiarem até “se estabilizaram na carreira” – ou entrarem num concurso público!).
Nossa sociedade parece, de mais e mais, uma sociedade voltada para as crianças, para o “futuro e a esperança”, como se diz frequentemente em relação às crianças. Nossa vida social está se tornando tão ridícula que “a melhor parte de nós” é devotada aos filhos – isto é, o sujeito, ao ter para si que está cuidando bem de seus filhos, sente-se que alcançou uma espécie de “glória” terrena, mesmo com todos os sofrimentos implicados em ter um filho. Bom, há quem diga que ter um filho é o gesto máximo de altruísmo. Eis aí uma coisa que ninguém vai me convencer a acreditar!
Com a falência ou, sendo otimista (ou polido), com a mutação do significado de “viver juntos em sociedade”, os projetos ou ideais de construção da subjetividade voltam-se, mais uma vez, para a esfera privada, aquela da criação dos filhos. A criação destes, e as fantasias envolvidas, passam a nutrir a própria união dos casais, que muitas vezes já não têm mais outra fonte de contato entre si que não essa (pois já faz tempo que o casamento deixou de ser uma obrigação moral). Filhos tornam-se, paradoxalmente, mediadores e motivos de uniões e separações. Alguém pode dizer que um filho é “trans” casamento: larga-se do esposo/mulher mas os filhos continuarão a ser filhos…
A questão é que mimamos nossos filhos em exagero. Infantilizamos nossos filhos, mesmo quando já adultos. Estamos criando uma sociedade de imbecis, adultos mimados, dependentes, com dificuldade de lidar com o sofrimento, incapazes de assumir algo que seja um pouco maior do que seus egos paparicados. Visite um shopping no final de semana e vai entender: ou você vê “famílias” (leia-se, pais e filhos) curtindo as vitrines e as “alamedas de serviços”, ou você vê casaizinhos felizes, adolescentes, vivendo seu momento de fantasia às custas dos pais, em casa (e “felizes e aliviados”, por saberem que seus filhos estão “seguros” no shopping).
Minha dúvida é: o que fazem as duas principais “instituições” responsáveis pela transição para a vida adulta, universidades e organizações de trabalho? Quem me responde?
Em uma coluna sua recente, Contardo Calligaris nos ajuda a pensar em possíveis respostas (ou em mais dúvidas!…)