Comentários

Você já teve o trabalho de ler os comentários de internautas em portais de notícias ou em outros locais virtuais? Caso não, faça-o algum dia, por pura distração antropológica. Honestamente, quando faço isso, fico com uma dúvida cruel na alma: que povo somos? De um lado, acho que a internet é lugar de gente que gosta de estravasar o que há de pior e mais indecente: ódio, inveja, maldade, conversa fiada. Para mim, justamente a conversa fiada é o pior. Fala-se sem qualquer escrúpulo, em especial dos políticos.

Por exemplo. A visita do Papa.

Francisco desembarcou hoje no Rio de Janeiro. Ao acompanhar a cobertura do fato, fui até os comentários em diversos portais. As pessoas conseguiam, mesmo com respeito ao Papa e à sua visita, falar bobagens e idiotices. Mas este é só um exemplo. Ao final de qualquer matéria você pode ler tais comentários. No fundo, sem querer ser conservador, acho que a internet está cheia de gente ignorante, semi-analfabeta, covarde, sem noção da realidade.

Vive-se uma vida paralela nesses comentários. Seus autores não sabem, no fundo, o que estão falando. Repletos de erros de português, disparam contra a política, fazem piadinha, liberam seus instintos mais profundos, animalescos, a-políticos.

Por outro lado, esses mesmos comentários refletem um pouco de nossa cultura, de nosso jeito (brasileiro) de ser. Um povo deslumbrado por algo que nem sabe nomear. O brasileiro, parece-me, não sabe lidar com a liberdade – neste caso, a permitida pela internet. Veste um personagem e começa a falar sem qualquer critério. Simplesmente, libera sua mais pervertida e insensata alma. Uma alma pré-civilizacional, ou seja, animal. Desculpem-me a expressão, mas é isso mesmo que acho: alma animal. Uma besta sem modos, sem a menor capacidade de viver a simbologia da vida cotidiana.

Não estou, em nenhum momento, dizendo que o Papa ou qualquer outra personalidade religiosa/política são imunes a críticas ou o quer que seja. Mas tomei este exemplo para falar um pouco de meu mal-estar com comentários na Internet. Algo profundamente decepcionante, a-simbólico, abjeto.