Bartleby

Suponho que você conheça a estória de Bartleby, o escrivão. Como se sabe, o tal é um personagem criado por Herman Melville. Na trama que leva seu nome, Bartleby: o escrivão, este limita-se a dizer, diante de qualquer pedido que lhe é feito, “Prefiro não o fazer”.

Enrique Vila-Matas, escritor espanhol, dedica um livro ao que ele denomina de “Síndrome Bartleby”. O livro se chama “Bartleby e companhia“. Acabei de lê-lo. Vila-Matas narra a história de diversos “autores do Não”, como ele diz: gente que escreveu um livro (ou vários) e, de repente, desaparece. Lembro-me, no contexto local, de ter ouvido algo do tipo com alguns de nossos autores, por exemplo, o de “Lavoura arcaica”. Enfim.

Uma coisa leva à outra, pensei em Cioran, o filósofo hiper-pessimista, se o posso, irresponsável e deliberadamente, o chamar assim. Aliás, Vila-Matas, claro, o cita, pois seria imperdoável em um inventário dos escritores do Não.

E Cioran, num de seus aforismos (não me lembro em qual livro dele…), diz que um dos grandes males de nosso tempo é a idéia de “ser útil”. Este blog, por exemplo: qual sua razão de ser que não a utilidade de compartilhar algo com o anônimo (e improvável) leitor? É preciso haver utilidade. Uma pessoa é julgada pela sua utilidade.

Acho essa idéia de utilidade algo completamente burguês. O burguês (eu, você – que, com certeza, se está lendo este blog, é um burguês), vale pelo quanto ele faz; vale por sua realização, por sua “performance” – como diríam os risíveis (entre os quais me incluo) psicólogos “organizacionais”.

Qual sua utilidade, distinguível leitor?